Não vem, que não tem

Nos últimos 7 anos, a vida mudou bastante.

Hoje é muito boa, não dá pra negar. Mas já foi bem diferente.

Neste curto período, deu tempo de muita coisa ruim acontecer. De fazer más escolhas, trabalhar dia e noite, e acabar caindo com a testa no chão do escritório, com a pressão arterial passando de 22. Deu tempo de achar que eu ia morrer, aliás, mais de uma vez.

Deu tempo de ter 7 crises dessas, e fazer 7 visitas a hospitais lotados, na filinha do SUS, de dia ou à noite. E de poder contar nos dedos de uma só mão do Mickey, quantas visitas recebi.

E deu tempo de mais uma visitinha ao hospital, com uma semana de internação - sem nem saber qual era a doença. Deu tempo de pensar mais uma vez que, ali sim, chegaria a minha hora.

Deu tempo de falir. De ficar com mais de 100 mil reais em dívidas, de receber ligações dia e noite, cheias de ameaças, e de pensar várias vezes que seria melhor dar um fim na vida, pra parar de sofrer. É… deu tempo de ter alguns pensamentos que eu não me orgulho em nada.

Deu tempo de desacreditar em tudo. Deu tempo de perceber que eu tinha uma casa cheia de amigos e parentes quando a conta no banco estava positiva - e que quase todos eles sumiram quando o dinheiro também sumiu.

Deu tempo de errar, outras tantas vezes. De ter que dizer “sim” pra diversos idiotas, pra poder botar comida na mesa. E tempo mais que suficiente pra ver as pessoas que eu mais amo sofrendo - também por minha causa.

Deu tempo de se passarem vários dias, semanas e meses, sem nem sequer um “tá tudo bem aí?”.

De levar golpes, acreditar em vigaristas e ter que pagar o preço por isso.

Tempo que também serviu pra endurecer. Pra, mais uma vez, abaixar a cabeça e trabalhar, dia e noite, só pra poder voltar à estaca zero. Trabalhar dia e noite, mas também tirando um tempinho pra chorar sozinho, nas horas vagas, por estar trabalhando tanto a ponto de nem poder acompanhar meu filho crescer.

Deu tempo de muita lágrima rolar.

Deu tempo de enxergar quem é “de verdade” também. E de me certificar que essas pessoas saibam disso, com atitudes e palavras, e de criar laços mais fortes com elas.

Deu tempo de me livrar de quem era um peso, uma carga na vida. Esses que eu chamo de “idiotas”. Deu tempo de sorrir aliviado em vê-los partirem da minha vida. E tempo de aprender que, quanto menos tempo eu preciso passar com os idiotas, mais rico e feliz eu me sinto.

E deu tempo de me tornar uma versão de mim que eu gosto cada vez mais.

Feliz.

Em paz.

Ainda não deu tempo, no entanto, de afastar tudo o que eu não quero por perto. Principalmente pessoas.

Aquelas que já me conheciam antes destes 7 anos, mas que fizeram questão de não fazer parte da minha vida. Que tinham coisas mais importantes a fazer. Que fingiram não me ver na rua, que falaram pelas costas.

Pessoas que sabiam muito bem meu endereço e telefone, mas nunca se incomodaram em dar um bom dia.

Essa gente que, agora, vendo minha vida melhorar (geralmente por redes sociais), resolve aparecer, ser amiga. E o pior: pedir. Agora, apela para um coração mole. Apelam para a “boa e velha amizade”, ou para os laços familiares.

Agora querem visitar, provar minha comida, ganhar meu abraço. “Sempre torceram” por mim, não é?

E que serão os primeiros a achar que estou sendo ruim e rancoroso, quando receberem o tratamento que merecem, da minha parte.

Saibam: eu só não consegui me afastar dessas pessoas AINDA. Por enquanto.

Mas vou, assim que descobrir como.


Vocês, que ainda “sobraram” pra urubuzar minha vida. Que andam ressurgindo do limbo, querendo se aproveitar de algo vindo de mim.

De vocês, distância.